sábado, 20 de junho de 2009

Sarney aposta no cansaço do distinto público



Quer exemplo de mistificação mais grosseira do que a frase dita, por José Sarney (PMDB-AP) a propósito dos decretos secretos do Senado:

- Não pode haver ato secreto se houve causas e efeitos. Neste caso eles não podem ser secretos.

Pois os tais decretos secretos produziram causas e efeitos como nomeação de pessoas, aumento de salários de servidores, concessão de benefícios vitalícios e criação de cargos.

E, contudo, permaneceram secretos durante anos. Por secreto, entenda-se: não foram publicados no Diário Oficial do Congresso.

Sarney prefere dizer que a não publicação se deveu a "erro técnico". Conversa mole.

Os decretos secretos permaneceram secretos porque eram... secretos.

Caixa 2 sempre foi Caixa 2, embora o ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares preferisse a expressão "recursos não contabilizados", outra mistificação também grosseira.

Havia uma comissão criada por Sarney para estudar o caso dos "decretos secretos". Ele anunciou a criação de uma segunda comissão depois que um funcionário do Senado, em entrevista à Folha de S. Paulo, contou como eram expedidos e funcionavam os decretos secretos.

A presidência do Senado confere a Sarney poderes para demitir diretores.

Sarney disse que a demissão do atual diretor-geral do Senado será submetida ao voto dos seus 80 colegas senadores. Por que?

- Não deve ter afastamento de ninguém precipitadamente - disse Sarney. - Estamos num Estado de Direito. Não podemos tomar providências marciais, nem tribunais de exceção.

Lorota. Sarney não quer arcar sozinho com o ônus de demitir ninguém. O negócio dele é admitir - jamais dispensar.

Por fim, acenou com a publicação futura no futuro Portal da Transparência do Senado de "tudo" que aconteça ali. O que é "tudo"?

O prefeito Gilberto Kassab (DEM), de São Paulo, inaugurou um portal da transparência que aparentemente divulga tudo que tenha a ver com a prefeitura - salários dos milhares de servidores, inclusive o dele; todos os contratos assinados pela prefeitura; notas fiscais de qualquer compra que se faça.

O portal do Senado terá essa abrangência? Ou a transparência será menor, bem menor?

Saberemos quanto ganha cada senador, cada funcionário, incluídos benefícios, gratificações, horas extras?

Saberemos quanto o Senado gasta com a saúde dos senadores? E quantos servidores estão à disposição de cada senador em seu gabinete em Brasília e nos Estados?

Duvido. E vocês?

Sarney aposta no cansaço dos jornalistas e do distinto público para dar a crise do Senado por superada. Assunto que se arrasta durante muito tempo costuma cansar.

Por Ricardo Noblat.

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