O PL da deputada esteve aguardando votação por 4 anos e com isso a ansiedade das associações de proteção animal era grande na Assembleia Legislativa de Santa Catarina. Além da proibição em todo o território catarinense a Lei prevê multa de R$50 mil para quem a descumprir, e dobra a cada reincidência.
É uma grande vitória, vibrou Rosália Marçal. Para todos que começaram essa luta em 2007 quando a associação de proteção animal de Pomerode, Ama Bichos, tomou conhecimento do evento cruel e imediatamente deu início aos protestos, tanto na esfera jurídica quanto nos dias da puxada em Pomerode. Tenho o sentimento de dever cumprido na luta pela causa , porque eu quando vou ajudar uma animal olho nos olhos deles, eu vi todo desespero nos olhos dos cavalos em abril de 2007 em silêncio prometi que lutaria por eles, acrescenta Rosália.
No início eram mesmo, segundo um vereador da época, apenas alguns gatos pingados protestando e fazendo barulho. Com a maciça divulgação feita pela internet nas redes sociais e através de e-mails a causa ganhou o mundo. Foram centenas de e-mails nas caixas da prefeitura, de deputados e vereadores. Muitos se juntaram à causa, mas em cidade pequena as pessoas têm vínculos com a prefeitura e não podem se declarar formalmente, então se juntaram à causa no anonimato.
A persistência dos voluntários de diversas associações foram importante fator dessa conquista.
Até que em Abril de 2010 a APRABLU, associação de Blumenau e a ECOSUL de Florianópolis juntaram-se ao protesto e foram violentamente agredidos pelos organizadores e simpatizantes da puxada. Num ato covarde cerca de 40 pessoas atacaram o grupo de 13 pessoas, quebraram o fêmur de uma defensora, furaram com prego a testa de outra defensora num golpe de sarrafo; outra teve costurado com 6 pontos um corte na cabeça e os outros foram atacados com os sarrafos das faixas e pedras gerando lesões generalizadas. Também cinegrafista e repórter foram agredidos. Dessa agressão resultou em 2012 a condenação de alguns responsáveis pela pancadaria.
Em julho de 2010 a AMA Bichos recebeu da Assembleia Legislativa uma homenagem pelos serviços prestados e como forma de alertar as autoridades sobre a questão animal. “Nesse período em que ainda nos recuperávamos do trauma da agressão foi importante ter um reconhecimento a nível estadual” , lembra Maike Harnisch, uma das voluntárias mais ativas da AMA Bichos.
Chegar ao dia de hoje e ver acontecer o fim de uma puxada é motivo de muita alegria para nós defensores de animais. É saber que é chegada a hora de acabar com essa prática cruel, bestial e inútil em todo o estado de Santa Catarina. Por mais ofensas que tenhamos ouvido, por maiores que fossem as calúnias que sofremos, por mais inimizades que tenhamos arrecadado, hoje é seguro afirmar que tudo valeu a pena. Eu faria tudo de novo e estamos preparadas, inclusive psicologicamente, para enfrentar os desafios dessa causa que decidimos abraçar. Gosto muito de lembrar aos críticos que quem cuida de animais é porque ama os seres humanos mais frágeis, como crianças, idosos, deficientes físicos e mentais; pois têm mais espaço para o amor do que para o ódio no coração. Desde 2007 quando soubemos da existência da competição estúpida com cavalos chamada de Puxada, nós da AMA Bichos Pomerode lutamos contra. Fizemos manifestações a cada edição dessa barbárie. Não foram poucos os xingamentos e as tentativas de nos fazer parar. Nos desacreditavam incansavelmente. Até 2010 quando aconteceram as agressões físicas, em que fomos atacados covardemente por uma horda de homens bêbados. Os "puxadores" bateram com paus, pedras e ovos podres, nos colocaram a nocaute. Mas esse episódio foi o divisor de águas da batalha, a partir dele ficamos conhecidos e a causa ficou grande. Foram muitas as tentativas de nos fazer parar, de nos humilhar, de nos caluniar e ofender. Hoje, após a vitória por unanimidade na Assembleia, foi como se um daqueles sacos de areia tivesse sido tirado das minhas costas. Sei que desagradei muitas pessoas
da minha pequena Pomerode, só lamento. Pensei nos cavalos e continuarei pensando, a luta não acabou. Essa etapa foi vencida e o agradecimento vai para a Deputada Ana Paula Lima que tem a coragem de apresentar e defender a causa. Heike Weege.
No dia 14 de outubro de 2015 , data esta que entrará na história da proteção animal de SC, - finalmente foi aprovado por unanimidade na Assembléia Legislativa, o projeto de lei estadual que coíbe a prática da Puxada de Cavalos em nosso estado, prática esta existente em 9 municípios do alto vale. Durante mais de cinco anos temos acompanhado esta que poderia ser uma festa de confraternização saudável entre os colonos de nossa região, porém acabou sendo transformada na década de 80, num ritual macabro no qual cavalos comuns sem nenhuma raça definida, acabam sendo obrigados a fazer uma força que ultrapassa sua capacidade física. Estes animais trabalham durante a semana puxando toras da floresta, contribuindo para o desmatamento de nossa floresta Atlântica, o que já representa uma agressão à natureza, e não são poupados nem no domingo, dia sagrado do descanso, para que apostas rolem entre seus “donos” , que os vêem como mero objeto de exploração econômica.
Durante vários anos o Ministério Público ignorou os diversos apelos de protetores, que baseados nas diversas leis de proteção animal, pediam que alvarás para esta prática fossem negados, porém, alguns políticos daquelas regiões financiavam o torneio, visando votos em seu curral eleitoral. Um prefeito de cidade vizinha chegou a ameaçar de morte os ativistas caso pisassem em seu município. Em Pomerode fomos agredidas, feridas e tudo isto não teria acontecido caso nosso apelo através de ofício protocolado de ter uma viatura policial no local no dia da “festa” tivesse sido atendido. Aliás, onde já se viu uma festa popular onde rola bebida alcólica não ter uma viatura de plantão? Os puxadores estavam preparados para atacar. Tinham pedras e ovos podres estocados. Nada aconteceu por acaso.
Mas diante do olhar angustiado dos inocentes cavalos, nosso sofrimento foi menor. Foram várias tentativas infrutíferas, mas finalmente a Justiça se fez presente, entendeu que o mundo mudou, os valores são outros e a ciência comprovou que o sofrimento físico e mental afeta animais da mesma forma que humanos, só que eles não tem como se expressar verbalmente e acabam sendo abusados, tal qual crianças indefesas.
Fica nossa gratidão a Deputada Ana Paula que mais uma vez se mostrou sensível à causa animal, vem lutando conosco incansavelmente há tantos anos, e finalmente este projeto de lei foi aprovado por unanimidade na Assembléia Legislativa. Contamos agora com o bom-senso de nosso governador, para que dê a última canetada aprovando esta lei que só vem a engrandecer moralmente nosso estado. Mas uma lei não apenas se faz valer se aprovada e assinada, cabe à população fiscalizar, denunciar e participar ativamente para que a proibição realmente saia do papel e passe a vigorar. Hoje festejamos esta vitória e somos eternamente gratos à Deputada Ana Paula e sua eficiente equipe. Bárbara Leprecht.
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| A persistência dos voluntários de diversas associações foram importante fator dessa conquista. Foto: Heike Weege |
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| A Rosana sofreu escoriações no braço. Foto: Heike Weege |
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| Homens batendo em mulheres que estavam em seu direito constitucional de manifestação, em rua pública, em silêncio apenas sustentando faixas Foto Rafaela Martins |
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| O primeiro protesto da AMA Bichos. Foto: Heike Weege |
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